Observei, que muitas são as professoras que enfrentam bastantes dificuldades na hora de fazer o plano de trabalho.
Então vai ai um dica..
AS FORMAS DE
PLANEJAR DO PROFESSOR
Planejamento do Ensino
:: Por que planejar?
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Sem planejamento é difícil dar
conta do recado
|
O papel da escola na construção de um país mais justo é fundamental, e
ele se concretiza pela ação educativa. Desse modo, o trabalho do educador é tão
complexo e importante que não pode ser improvisado. Cada professor, conhecendo
os alunos com os quais trabalhará, tem de saber o que vai ensinar, para quê e
como fará isso ao longo do trabalho educativo. Assim também, a escola como um
todo, a partir das diretrizes gerais para a rede pública, define-se
estabelecendo prioridades e ações, ou seja, seu Projeto de escola.
Planejar é prever e organizar as ações com determinadas finalidades, para se
conseguir atingir mudanças.
:: O Projeto de Escola
Em seu Projeto de Escola, cada unidade escolar deve estabelecer quais são seus
objetivos educativos:
·
Que transformações pretende gerar em seus alunos e na comunidade
escolar?
·
Que ações educativas irá promover?
·
Que recursos humanos e materiais a escola possui?
·
Qual será o período de tempo disponível?
·
Qual será o período de tempo disponível?
O Projeto de Escola deve considerar as reais necessidades da comunidade
na qual a escola está inserida, em particular as necessidades educativas de
seus alunos:
·
Qual é a realidade da escola?
·
Quais são os principais problemas?
·
Os alunos têm realmente aprendido?
Assim, ao identificar e analisar as dificuldades que a escola enfrenta e
o que pretende mudar, é possível estabelecer objetivos e metas comuns a toda a
equipe. As diferentes ações pedagógicas, desde o atendimento dos pais à
realização de uma aula de Biologia, vão ser pensadas e organizadas a partir
dessas linhas comuns e das metas combinadas.
Nesse sentido, uma das funções centrais do Projeto de Escola é selecionar e
organizar os conteúdos necessários para dar conta dos objetivos educativos.
Esses conteúdos, por sua vez, são informações, conceitos, conhecimentos,
valores, práticas e todas as formas culturais que os alunos devem aprender para
que o processo educativo se realize de acordo com as intenções traçadas no
Projeto de Escola.
:: Planejamento de Ensino
Em uma escola
democrática, o Projeto de Escola é feito coletivamente e deve ser a base para
todas as atividades de ensino e de aprendizagem planejadas pelos professores
para serem desenvolvidas em sala de aula.
Esse planejamento do processo de ensino e aprendizagem que os professores devem
construir para orientar sua ação pedagógica na sala de aula é aqui chamado de
Planejamento do Ensino.
:: O Planejamento do Ensino em ação
A concretização do Planejamento de Ensino ocorre na sala de aula, com um
professor e sua classe desenvolvendo atividades de ensino e de aprendizagem.
Sala de aula, aqui, não deve ser considerada apenas o espaço entre quatro
paredes, com carteiras e uma lousa; mas sim, todo e qualquer espaço no qual
atividades de ensino e aprendizagem estejam ocorrendo. Por exemplo, quando um
professor e os alunos de uma classe encontram-se em um bosque, num parque
distante da escola, desenvolvendo uma atividade de educação ambiental, então,
aquele bosque torna-se uma sala de aula. Assim também, um laboratório, o pátio
da escola, um museu, uma oficina ou um estabelecimento industrial ou comercial
no qual, por motivos educativos, o professor se encontra com seus alunos,
desenvolvendo atividades de ensino e aprendizagem.
:: Ingredientes para planejar
Para falarmos de planejamento – seja o da escola ou da sala de aula – é
preciso, primeiramente, deixar claro entre o grupo algumas idéias:
·
de que tipo de escola estamos falando?que relações estabelecemos entre
escola e sociedade?
·
qual o sentido social da profissão de educador, seja ele professor,
coordenador, supervisor, diretor de escola, membro de equipe técnica ou de
apoio?
Quando um professor, em cooperação com seus colegas, elabora seu Planejamento
do Ensino, é importante ter em conta que sua ação profissional deve ser pensada
em termos de um otimismo crítico, ou seja, o professor deve
ter claro que as escolhas que faz quando elabora seus planos e as orientações
que imprime no decorrer de cada aula devem ser coerentes com o Projeto de
Escola, assim como, com uma perspectiva crítica e transformadora da realidade.
Essa preocupação com a concepção de educação que rege as ações do professor é
fundamental para que o espaço da sala de aula não se transforme em um local de
reprodução de injustiças, onde o conhecimento é visto como um pacote fechado a
ser transmitido mecanicamente aos alunos.
:: A importância de conhecer o aluno
O Planejamento do Ensino começa com o professor considerando:
·
quem são meus alunos?
·
quais são os conhecimentos e as experiências de vida que eles têm com
relação aos conteúdos das atividades que estarei propondo?
·
quais são as suas expectativas e dificuldades?
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Conhecer o aluno real é
fundamental para o Projeto
|
Essa preocupação em conhecer os alunos é muito importante, pois o
professor pode se enganar quando confunde os alunos reais, aqueles que estão em
sua sala de aula, com um modelo idealizado, geralmente aquele que “todo
professor gostaria de ter”: saudável, bem alimentado, cuidado pela família, com
acesso a livros, computador, centros culturais e lazer.
Leia mais sobre o tema
Diante dessas observações, fica claro que o Planejamento do Ensino não pode ser
feito para qualquer aluno, considerando apenas as características do
conhecimento, ou do conteúdo, em jogo nas atividades de ensino e aprendizagem.
Para o educador que trabalha com uma perspectiva inclusiva, que se preocupa com
as reais condições culturais de seus alunos, o Planejamento do Ensino deve
considerar os valores, os saberes e as experiências práticas que eles possuem,
selecionando e organizando os conteúdos do ensino coerentemente com essas
condições.
Dessa forma, se os alunos têm origem em famílias com pouca escolaridade, que
não possuem livros em casa, que não lêem jornal cotidianamente, crianças que
não têm a experiência de ganhar livros de literatura infantil, ou juvenil,
então, o Planejamento do Ensino precisa considerar que essas práticas sociais
devem estar presentes na própria escola. Esta, por sua vez, deve se organizar
para suprir da melhor forma possível todas as faltas que a condição de exclusão
de seus alunos possa estabelecer.
:: Acompanhar e avaliar o projeto
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Projeto de qualidade,
aluno autônomo
|
Os projetos de escola e o planejamento do ensino não são documentos
prontos e acabados. Na verdade, são estruturados como um processo. São
alterados de acordo com mudanças processadas no ambiente escolar, na comunidade
e nos alunos na sala de aula.
No caso, por exemplo, do Projeto de Escola é preciso observar as mudanças que
vão ocorrendo, acompanhar o desencadeamento das ações, perceber seus resultados
e, quando necessário, modificar os rumos do projeto. É preciso que a comunidade
escolar, liderada pela equipe de educadores, assuma uma posição atenta, crítica
e autocrítica quanto ao percurso do projeto.
Veja mais questões
Além da avaliação feita pelos educadores, sem dúvida indispensável, é
importante incentivar as críticas vindas dos alunos, dos pais que podem
contribuir para o desenvolvimento do projeto. Por isso, é importante abrir a
escola para a avaliação da comunidade.
Quanto ao Planejamento de Ensino, a avaliação diversificada é fundamental para
o replanejamento das ações pedagógicas futuras. É preciso saber se:
·
os alunos compreenderam os conceitos?
·
as atividades propostas foram adequadas?
·
atingiram os objetivos propostos? suas habilidades foram desenvolvidas?
·
que atitudes revelam mudanças?
·
houve trabalhos em grupos e individuais e com todos?
·
as propostas foram diversificadas?
O Planejamento do Ensino que, como foi dito, se realiza no espaço da
sala de aula, envolve sempre quatro componentes que não podem ser
considerados isoladamente:
·
o aluno que aprende;
·
o professor que ensina;
·
um ou mais conteúdos de aprendizagem;
·
a avaliação.
Texto original: Vinicius Signoreli
Edição: Equipe EducaRede
Ilustrações: Michele Iacocca/Arquivo CENPEC
Planejamento na escola...
:: Sala de aula: planejar ou improvisar?
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Planejar para construir o
ensino
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Em uma sala de
aula, durante a fala do professor, um aluno formula uma pergunta. O professor
ouve atentamente e se vê diante de um dilema: O que fazer? Responder a pergunta
objetivamente e continuar a exposição? Anotar a questão no quadro e dizer que
responderá ao terminar o que está expondo? Anotar a pergunta e pedir a toda
classe que pense na resposta? Solicitar ao aluno que anote a pergunta e a
repita ao final da exposição? Qual a conduta mais correta?
Escolher uma resposta adequada depende de vários fatores que devem ser
considerados pelo professor. Entre eles, se a pergunta contribui para o
desenvolvimento da atividade de ensino e aprendizagem naquele momento, ou ainda
se existe pertinência em relação ao conteúdo em jogo na atividade.
A pergunta pode evidenciar um nível de compreensão conceitual mais elaborado de
um aluno se comparado à maioria da classe. Respondê-la naquele momento
transformaria a aula em uma conversa entre o professor e aquele aluno, que
dificilmente seria acompanhada pelos demais. Pode também revelar uma criança ou
jovem com dificuldade de compreender o conceito em questão, o que sugere algum
tipo de atenção mais individualizada. É possível concluir ainda que a questão
seria uma ótima atividade de aprendizagem em um momento posterior, quando
certos aspectos do conteúdo já estiverem esclarecidos.
:: Planejar: coerência para as ações educativas
O professor tem um papel fundamental de coordenar o processo de ensino e
aprendizagem da sua classe. “É preciso organizar todas as suas ações em
torno da educação de seus alunos. Ou seja, promover o crescimento de todos eles
em relação à compreensão do mundo e à participação na sociedade”. Para
isso, ele precisa ter claro quais são as intenções educativas que presidem esta
ou aquela atividade proposta. Na verdade, ele precisa saber que atitudes,
habilidades, conceitos, espera que seus alunos desenvolvam ao final de um
período letivo.
Certamente isso significa fazer opções quanto aos conteúdos, às atividades, ao
modo como elas serão desenvolvidas, distribuir o tempo adequadamente, assim
como fazer escolhas a respeito da avaliação pretendida. Se essas intenções
estiverem claras, as respostas a esta ou àquela pergunta ou a diferentes
situações do cotidiano de uma sala de aula serão mais coerentes com
os objetivos e propósitos definidos.
O Planejamento do Ensino tem como principal função garantir a coerência
entre as atividades que o professor faz com seus alunos e as aprendizagens que
pretende proporcionar a eles.
::Quem faz o planejamento
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O planejamento é um trabalho individual e de equipe
|
A elaboração do
Planejamento do Ensino é uma tarefa que cada professor deve realizar tendo em
vista o conjunto de alunos de uma determinada classe, sendo, por isso,
intransferível. O ideal é desenvolver esse Planejamento em cooperação com os
demais professores, com a ajuda da coordenação pedagógica e mesmo da direção da
escola, mas cada professor deve ser o autor de seu Planejamento do Ensino.
Quantas vezes nós, professores, ouvimos um aluno perguntar: - Professor, por
que a gente precisa saber isso? Quantas vezes, no tempo em que éramos alunos,
fizemos essa mesma pergunta a nossos professores, sem nunca obter uma resposta
satisfatória?
:: Flexibilidade
Vale lembrar que nenhum Planejamento deve ser uma camisa-de-força para o
professor. Existem situações da vida dos alunos, da escola, do município, do
país e do mundo que não podem ser desprezadas no cotidiano escolar e, por
vezes, elas têm tamanha importância que justificam por si adequações no
Planejamento do Ensino.
No processo de desenvolvimento do ensino e da aprendizagem, novos conteúdos e
objetivos podem entrar em jogo; outros, escolhidos na elaboração do plano,
podem ser retirados ou adiados. É aconselhável que o professor reflita sobre
suas decisões durante e após as atividades, registrando suas idéias, que serão
uma das fontes de informação para melhor avaliar as aprendizagens dos alunos e
decidir sobre que caminhos tomar.
Além disso, as pessoas aprendem o mesmo conteúdo de formas diferentes;
portanto, o Planejamento do Ensino é um orientador da prática pedagógica e não
um “ditador de ritmo”, no qual todos os alunos devem seguir uniformemente. Ao
longo do ano letivo e a partir das avaliações, algumas atividades podem se
mostrar inadequadas, e será necessário redirecionar e diversificá-las, rever os
conteúdos, fazer ajustes.
:: Registro
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Registrar ajuda a avaliação
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Vale destacar que a
forma de organizar o Planejamento do Ensino aqui apresentado é uma escolha. O
importante é o professor ter alguma forma de registro de suas intenções,
procurando agir pedagogicamente de forma coerente com os objetivos específicos
e gerais traçados no Projeto de Escola e em seu Planejamento do Ensino. A forma
como cada professor registra seu Planejamento não deve ser fixa, para que cada
profissional possa fazê-lo da forma como se sente melhor. Mas, se um educador
deseja ser um profissional reflexivo, que pensa criticamente sobre sua prática
pedagógica e se desenvolve profissionalmente com esse processo, ele precisa
registrar seu Planejamento do Ensino.
"Redigir o projeto não é uma simples formalidade administrativa. É a
tradução do processo coletivo de sua elaboração [...]. Deve resultar em um
documento simples, completo, claro, preciso, que constituirá um recurso
importante para seu acompanhamento e avaliação."
:: Componentes do planejamento do ensino
O Planejamento do Ensino, chamado também de planejamento da ação pedagógica ou
planejamento didático, deve explicitar:
·
as intenções educativas – por meio dos conteúdos e dos objetivos
educativos, ou das expectativas de aprendizagem;
·
como esse ensino será orientado pelo
professor – as atividades de ensino e aprendizagem que o professor
seleciona para coordenar em sala de aula, com o propósito de cumprir suas
intenções educativas, o tempo necessário para desenvolvê-las);
·
como será a avaliação desse processo.
:: Conteúdos e objetivos
Conteúdo é uma forma cultural, um tipo de conhecimento que a escola
seleciona para ensinar a seus alunos. Informações, conceitos, métodos,
técnicas, procedimentos, valores, atitudes e normas são tipos diferentes de
conteúdos. Informações, por exemplo, podem ser aprendidas em uma atividade, já
o algoritmo da multiplicação de números inteiros, que é um procedimento, não.
Esse é um tipo de conteúdo cuja aprendizagem envolve grandes intervalos de
tempo e que necessita de atividades planejadas ao longo de meses, pelo menos.
Valores são conteúdos aprendidos nas relações humanas, ocorram elas no espaço
escolar ou não. Muitas vezes, aprender um valor pode significar também mudar de
valor, o que torna o ensino e a aprendizagem de valores, e de atitudes também,
um processo complexo, que não se resolve apenas com a preparação de atividades
localizadas. Em uma escola onde o respeito mútuo e o combate a qualquer tipo de
preconceito de gênero, de etnia ou de classe social estejam ausentes no
dia-a-dia, não há como ensinar valores e atitudes por meio de atividades ou
“sérias conversas” sobre esses temas.
Os conteúdos do Planejamento do Ensino são aqueles que guiaram a escolha das
atividades na elaboração do plano e são os conteúdos em relação aos quais o
professor tentará observar, e avaliar, como se desenvolvem as aprendizagens,
pois isso não seria possível fazer com relação a “todos” os conteúdos presentes
na atividade.
Mais conteúdos de planejamento e atividades
:: Objetivos
Os objetivos educativos do Planejamento do Ensino, também chamados
objetivos didáticos ou específicos, ou ainda de expectativas de aprendizagem,
definem o que os professores desejam que seus alunos aprendam sobre os
conteúdos selecionados. A forma tradicional de redigir um objetivo é utilizar a
frase “ao final do conjunto de atividades, cada aluno deverá ser capaz de...”.
Não há problema em definir dessa forma os objetivos no Planejamento do Ensino,
desde que os alunos não sejam obrigados a atingi-los todos ao mesmo tempo. É
possível definir esses objetivos descrevendo as expectativas de aprendizagem da
forma que for mais fácil de compreendê-las.
Os objetivos educativos do Planejamento do Ensino são importantes porque muitos
conteúdos, os conceitos científicos entre eles, são aprendidos em processos que
se complementam ao longo da escolaridade. Por exemplo, se um aluno das séries
iniciais do Ensino Fundamental afirmar que célula é uma “coisa” muito pequena
que forma o corpo dos seres vivos, pode-se considerar que seu conhecimento
sobre o conceito de célula está em bom andamento. Mas, se esse for um aluno de
1a série do Ensino Médio, então, ele está precisando aprender mais sobre esse
conceito.
Os objetivos educativos do Planejamento do Ensino definem o grau de
aprendizagem a que se quer chegar com o trabalho pedagógico. São faróis, guias
para os professores, mas não devem se tornar “trilhos fixos”, em seqüências que
se repetem independentemente da aprendizagem de cada aluno.
:: Organização das atividades
A principal função do conjunto articulado de atividades de ensino e
aprendizagem que devem compor o Planejamento do Ensino é provocar nos alunos
uma atividade mental construtiva em torno de conteúdo(s) previamente
selecionado(s), no Projeto de Escola, no Planejamento do Ensino ou durante sua
realização.
Ao escolher uma atividade de ensino e aprendizagem para desenvolver com seus
alunos, o professor precisa considerar principalmente a coerência entre suas
intenções – explicitadas pelos conteúdos e objetivos – e as ações que vai
propor a eles. Precisa também pensar em como aquela atividade irá se articular
com a(s) anterior(es) e com a(s) seguinte(s). Uma atividade que está iniciando
o trabalho sobre um ou mais conteúdos é muito diferente de uma atividade na
qual os alunos estão discutindo um problema real, visto no jornal, por exemplo,
baseados em seus estudos anteriores sobre conceitos que estão em jogo no
problema.
As atividades devem ser de acordo com aquilo que se quer ensinar, seja a curto,
médio ou longo prazo. A diversidade é uma de suas características principais:
assistir a um filme, a uma peça teatral ou a um programa de TV; realizar
produções em equipe; participar de debates e praticar argumentação e
contra-argumentação; fazer leituras compartilhadas (em voz alta); práticas de
laboratório; observações em matas, campos, mangues, áreas urbanas e agrícolas;
observações do céu; acompanhamento de processos de médio e longo prazo em
Biologia e Astronomia. Idas a museus, bibliotecas públicas, exposições de arte.
Pesquisa em livros e revistas, com ou sem uso de informática e Internet.
Assistir a uma exposição por parte do professor.
Novamente, deve-se insistir no fato de que a seqüência de atividades que compõe
o Planejamento do Ensino deve levar em conta as experiências dos próprios
alunos no decorrer de cada atividade escolhida. Existem planos que se realizam
quase integralmente, os que se realizam em grande parte, ou aqueles que,
simplesmente, precisam ser refeitos tendo como critério a avaliação da aprendizagem
dos alunos.
:: Avaliação continuada
A avaliação continuada, ou mediadora da aprendizagem, indispensável no
Planejamento do Ensino, é o instrumento por meio do qual o professor procura
observar o desenvolvimento de seus alunos à medida que o processo de ensino e
aprendizagem está em andamento. Essa observação tem por objetivo regular as
atuações do professor, ou seja, dar a ele informações para que seja possível
decidir se o que foi traçado no planejamento está correspondendo ao esperado ou
não. Sendo que, no segundo caso, o professor precisa, então, refletir sobre o
que deve mudar para que as aprendizagens esperadas comecem a se realizar ou
melhorem. É importante frisar que essa avaliação não tem por objetivo dar nota
aos alunos, mas sim regular o processo de ensino e aprendizagem.
Quando uma professora inicia seu trabalho em uma 2ª série e percebe que quase
metade de seus alunos não consegue ler um pequeno bilhete de boas-vindas que
ela havia preparado, então, deve começar a pensar no que fazer imediatamente,
ou seja, tem que pensar em como irá articular as atividades de forma a
proporcionar o desenvolvimento da leitura a todos os alunos, cada um partindo
do estágio em que se encontra.
Sempre que um professor dá início ao trabalho com algum conteúdo, deve observar
o que os alunos já sabem sobre esse conteúdo. Essa avaliação pode ser chamada
de inicial Mas ela não se refere ao início do ano ou do bimestre e, sim, ao
início do trabalho pedagógico com um determinado conteúdo. A avaliação inicial
auxilia o professor a ajustar seu plano de ensino, principalmente considerando
as diferenças entre seus alunos no momento de desenvolver as atividades
selecionadas no planejamento.
Quando um professor de Ciências descobre que seus alunos da 6a série não
conseguem resolver problemas porque têm dificuldades de leitura, deverá, então,
colaborar com o desenvolvimento da competência leitora de seus alunos, ainda
que trabalhando com textos específicos de sua área, como por exemplo, de
divulgação científica, textos expositivos ou argumentativos.
Ao refletirmos sobre a avaliação mediadora do ensino e da aprendizagem em sala
de aula, explicitamos uma função importante do Planejamento do Ensino: ser a
referência que o professor utiliza para avaliar continuamente o processo de
ensino e aprendizagem, com o propósito de garantir as aprendizagens dos alunos
naqueles conteúdos eleitos no Planejamento.
Texto original: Vinicius Signoreli
Edição: Equipe EducaRede
Ilustrações: Michele Iacocca/Acerco CENPEC
:: A organização de atividades de ensino e aprendizagem
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Para construir é preciso organizar
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O objetivo desse
texto é refletir sobre o segundo componente: a organização de atividades de
ensino e aprendizagem. Essas idéias de organização das atividades de ensino
podem e devem ser adotadas para todos os ciclos, tanto no Ensino Fundamental
quanto no Médio.
Uma aula expositiva e dialogada pode ser uma ótima atividade para formalizar um
conceito que já vem sendo estudado há semanas em um projeto didático. Mas a
mesma aula expositiva pode ser uma péssima escolha quando se trata de iniciar o
trabalho com novos conteúdos ainda não problematizados com os alunos. Conteúdos
diferentes precisam ser trabalhados com atividades diferentes. Mas, para além
de cada atividade e seu conteúdo, é preciso pensar sobre a melhor articulação
entre os diferentes conteúdos eleitos para serem ensinados e aprendidos, e
os diferentes tipos de atividades presentes no trabalho pedagógico.
A aprendizagem não é um processo linear e ocorre com sucessivas
reorganizações do conhecimento. Por isso, se o ensino estiver baseado em
fragmentos de conhecimento correspondendo a intervalos de tempo iguais, estará
fadado ao fracasso. Esse problema tem se repetido em nossas escolas no que diz
respeito ao ensino e aprendizagem da leitura e da escrita. Os professores
propõem a mesma atividade a todos os alunos e espera que todos a realizem no
mesmo tempo, para dar prosseguimento ao “planejamento”. Mas as crianças não
aprendem no mesmo ritmo e, em poucas semanas, várias já não conseguem
compreender as propostas de atividade que o professor faz.
Para criar condições a fim de flexibilizar o tempo e a retomada dos conteúdos,
a autora Delia Lerner sugere que se ponha em ação diferentes modalidades organizativas do ensino, que são: os projetos, as atividades habituais, as seqüências de
atividades e as atividades independentes. Essas quatro diferentes modalidades
organizativas devem coexistir e se articular ao longo do trabalho pedagógico.
:: Os projetos
Os projetos (também chamados de projetos didáticos), que não devem ser
confundidos com os Projetos de Escola, são formas organizativas do ensino cuja
principal característica é ter início em uma situação-problema e se articular
em função de um propósito, um produto final, que pode ser um objeto, uma ação
ou os dois (um livro, um mural, um prospecto de campanha, uma peça de teatro,
uma peça radiofônica, um seminário). Uma qualidade importante dos projetos é
oferecer um contexto no qual o esforço de estudar tenha sentido, e no qual os
alunos realizem aprendizagens com alto grau de significação.
Não há um tempo ideal de duração de um projeto, pois, dependendo dos objetivos
traçados, ele pode durar dias ou até meses. Os projetos de duração mais longa
permitem ao professor compartilhar o planejamento das ações voltadas à
construção do produto final com seus alunos, desenvolvendo também suas
capacidades para elaborar cronogramas. Nesses casos, “uma vez fixada a data em
que o produto final deve estar elaborado, é possível discutir um cronograma
retroativo e definir as etapas que será necessário percorrer, as
responsabilidades que cada grupo deverá assumir e as datas que deverão ser
respeitadas para se alcançar o combinado no prazo previsto ”. É a modalidade
organizativa do ensino que mais se afina com os trabalhos
interdisciplinares.
:: Atividades habituais
As atividades habituais são situações propostas com regularidade – uma vez por
semana ou por quinzena, por exemplo. Podem ser utilizadas quando um dos objetivos
do trabalho é formar hábitos ou construir atitudes. A roda de notícias é um
exemplo desse tipo de atividade: uma vez por semana, professor e alunos trazem
para a sala de aula matérias colhidas recentemente nos jornais, lêem e comentam
as notícias. A leitura de um romance também pode ser feita, passo a passo, por
meio de atividades habituais.
Um professor de Matemática de 1ª série do Ensino Médio, que tem quatro
encontros semanais com uma classe, desenvolve o estudo de funções em três
desses encontros, por meio de atividades seqüenciadas, e uma vez por semana,
desenvolve estudos estatísticos relacionados a um projeto interdisciplinar que
a turma está realizando, em colaboração com os professores de Geografia e
História. Esse encontro passa, então, a ser uma atividade habitual, relativa ao
desenvolvimento do projeto.
:: Seqüências de atividades
As seqüências de atividades são situações articuladas que possuem um objetivo
educativo comum relativo a um ou mais conteúdos de aprendizagem. É a modalidade
organizativa mais utilizada pelos professores em seus planejamentos do ensino.
Seu tempo de duração varia de acordo com os conteúdos e com os objetivos.
:: Situações independentes
As situações independentes são aquelas que, geralmente, correspondem a necessidades
didáticas surgidas no decorrer do processo de ensino e aprendizagem. Uma aula
em que o professor sistematiza um conhecimento que esteve em jogo no
desenvolvimento de um projeto recém-terminado. Dois exemplos:
·
professores de um determinado ciclo preparam um debate, a partir de um
documentário em vídeo, em função da ocorrência nas imediações da escola de fato
que envolve questões de violência, ética e que pedem uma intervenção educativa
por parte dos professores;
·
durante uma discussão sobre notícias de jornal (atividade habitual), um
aluno trás um artigo de jornal comentando uma descoberta científica. A classe
demonstra grande interesse pelo assunto, então, o professor sugere a uma equipe
de alunos que prepare um seminário sobre o tema e marca uma atividade
independente para a apresentação.
Esse último exemplo nos faz lembrar que o Planejamento do Ensino deve ser
construído com flexibilidade, tendo um espaço para que atividades independentes
possam ser realizadas. A característica mais marcante do ensino “tradicional” é
colocar todos os alunos a “marchar” em passo rápido e uniforme, pois sempre há
uma quantidade enorme de conteúdos a serem “dados”. Nada pode fugir ao rígido
plano elaborado no início do ano e que deve ser cumprido custe o que custar.
Combinando as diferentes modalidades, o professor tem condições de organizar
seu Plano de Ensino de modo a proporcionar aos alunos processos de aprendizagem
mais significativos, articulando os diferentes conteúdos com as diferentes
modalidades e, dessa forma, evitando a fragmentação do conhecimento e
respondendo melhor ao desafio de ensinar.
Observação: Sugere-se que para ter uma visão mais ampla da questão o
professor se reporte também às atividades apresentadas para todos os níveis.
Texto original: Vinicius Signoreli
Edição: Equipe EducaRede
Ilustrações: Michele Iacocca/Acerco CENPEC
:: O ensino e as condições iniciais dos alunos
“O ensino deve partir dos conhecimentos prévios dos alunos”. O que quer
dizer esta expressão bastante utilizada atualmente? O que ela pode significar
em relação ao Planejamento do Ensino?
Para começar, é necessário definir os “conhecimentos prévios”, já que é comum
haver uma confusão com relação a essa idéia, inclusive chegando a significar o
conjunto de “conteúdos que os professores da série anterior ensinou e que os
alunos deveriam ter aprendido”.
Conhecimento prévio é um conceito que se tornou famoso entre os educadores a
partir de reflexões em educação com base teórica na pesquisa piagetiana. A
construção do conhecimento pelo sujeito que pensa é a principal preocupação
dessas pesquisas. Compreender como é o conhecimento que esse sujeito tem em um
determinado momento de sua vida e com relação a um objeto é fundamental para
refletir sobre a forma como esse sujeito aprende, ou seja, como ele transforma
esse conhecimento prévio, passando a ter um maior conhecimento sobre o objeto.
Para os pesquisadores que trabalham com a construção do conhecimento, ou seja,
com a forma como se dá a aprendizagem em relação a diferentes objetos de
conhecimento, saber como são os conhecimentos prévios de uma pessoa (criança,
jovem ou adulto) significa fazer uma pesquisa científica. Isso implica cuidados
metodológicos, fundamentação teórica e tempo de observação, no mínimo. Muitas
pesquisas têm sido feitas em torno dessa questão. Os educadores, sem dúvida,
devem conhecê-las, pois elas podem nos orientar sobre decisões a tomar do ponto
de vista didático. No entanto, um professor não precisa, e nem deve, a não ser
que exista uma justificativa pedagógica para isso, desenvolver pesquisas em
sala de aula para determinar quais são os conhecimentos prévios dos alunos toda
vez que inicia uma ação pedagógica em relação a determinado conteúdo.
O que é preciso conhecer são as condições iniciais dos alunos, para planejar e
desenvolver com eles as atividades de ensino e aprendizagem. Sempre que há
aprendizagem, os conhecimentos prévios do sujeito que aprende estão em jogo, e
isso faz parte das condições iniciais dos alunos, mas isso não é tudo. É
preciso levar em conta também, entre outros aspectos:
·
a relação que os alunos têm com o esforço de aprender;
·
como eles encaram novos desafios;
·
que aprendizagens precisam ter vivido para dar conta das atividades na
forma como elas estão planejadas.
Os conhecimentos prévios do aluno devem ser considerados na medida em que
entram em ação durante a atividade. Ou seja, quando o professor percebe que um
aluno não consegue responder a uma questão, ou escrever um texto, ou ainda, se
a atividade não teve interesse porque ele já sabia as respostas, deve observar
melhor o que esses alunos já sabem para ajustar as propostas de ensino às
condições iniciais.
Durante a elaboração do Planejamento do Ensino, as condições iniciais dos
alunos, em particular os conhecimentos prévios, precisam ser considerados
também para que esse planejamento fique o mais próximo possível de sua
realização. No entanto, somente durante a ação pedagógica é possível
certificar-se se as hipóteses sobre as condições iniciais dos alunos foram
adequadas ou não, para alterar o plano inicial e torná-lo melhor para aquele
grupo de alunos, caso seja necessário.
Professores do Ensino Fundamental – guardadas as diferenças - convivem com
cenas comuns nas escolas públicas ou privadas de todo o país, que envolvem as
condições iniciais dos alunos.
Logo no início do ano letivo, na segunda semana de aula, um professor de
Matemática entra na sala dos professores e, vendo seus colegas, afirma: “Esses
alunos da 5ª série não vão aprender nada. Estou começando a ensinar frações e
eles não sabem nem multiplicar. Dividir então, nem pensar”. Por que esse
professor não pára imediatamente seu trabalho e reavalia seu planejamento? Por
que não conversa com a coordenação pedagógica a respeito dessas dificuldades do
grupo e solicita uma parceria para reorientar seu plano de trabalho de modo a
dar conta das dificuldades de aprendizagem de seus alunos?
Existem muitas respostas para essas questões e uma delas diz respeito à
formação dos professores nos cursos de licenciatura que, em geral, não abordam
esse tipo de problema. Muito raramente em Matemática, por exemplo, estudam como
deve ser a didática do ensino das operações fundamentais. Em conseqüência,
aqueles que tentam realizar esse ensino na quinta ou sexta série, o fazem por
meio de aulas expositivas. O professor resolve algumas contas na lousa,
explicando “detalhadamente” cada “passagem” do algoritmo e perguntam se os
alunos entenderam. Em seguida, considerando que o silêncio da classe significa
“Sim, entendemos”, passa uma lista de contas para fazer em classe e em casa. E
os alunos continuam sem saber multiplicar e dividir.
:: Problematizar – uma competência que o professor deve ter
Em todo início de trabalho com um conteúdo, mesmo que este já tenha sido trabalhado
anteriormente, é necessário que o professor se preocupe em mobilizar os alunos
para as aprendizagens que deverão ocorrer. Essa mobilização, que depende das
condições iniciais dos alunos, pode ser despertada pelo professor por meio de
problematizações do conteúdo.
Problematizar significa criar questões que possam ser entendidas pelos
alunos, mas que não podem ser respondidas de imediato, provocando-lhes uma
vontade de saber. Em muitos casos, o Projeto de Escola já apresenta
problematizações apropriadas para o desenvolvimento do ensino e da
aprendizagem. Mas, em geral, os professores precisam, a partir do Projeto de
Escola, selecionar conteúdos e, considerando as condições iniciais de seus
alunos, realizar o Planejamento do Ensino e as problematizações necessárias ao
desenvolvimento das atividades de ensino e aprendizagem.
É importante que fique bem claro que, se os alunos não se interessarem pelas
questões que o professor faz a eles, então, são as questões que precisam mudar,
não os alunos.
Essas reflexões podem ser aplicadas ao trabalho de todos os professores da
educação básica, seja uma professora alfabetizadora, um professor de 5ª a 8ª
série ou de Ensino Médio.
Texto original: Vinicius Signoreli
Edição: Equipe EducaRede
Ilustrações: Michele Iacocca/Acerco CENPEC
Leia:
CENPEC Projeto de escola Raízes e Asas. São Paulo, s/d
______Trabalho Coletivo na Escola Raízes e Asas. São Paulo, s/d
CORTELLA, Mario Sergio. A escola e o conhecimento – fundamentos epistemológicos
e políticos. 3ª ed. São Paulo: Cortez: Instituto Paulo Freire, 2000.
LERNER, Delia. Ler e escrever na escola: o real, o possível e o necessário.
trad. Ernani Rosa. Porto Alegre: Artmed, 2002.
ZABALA, Antonio. A prática educativa: como ensinar. trad. de Ernani Rosa –
Porto Alegre: ArtMed, 1998.
HOFFMANN, Jussara. Avaliar para promover: as setas do caminho - Porto Alegre:
Mediação, 2001.
GANDIN, Danilo,& GANDIN,Luis Armando.Temas para um projeto
político-pedagógico Petrópolis, RJ: Vozes, 1999.
PERRENOUD, Philippe. Dez novas competências para ensinar trad. Patrícia
Chittomi Ramos. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000.
__________________. Avaliação: da excelência à regulação da aprendizagem –
entre duas lógicas trad. Patrícia Chittomi Ramos.Porto Alegre: Artes Médicas
Sul, 1999.
Referências Eletrônicas:
O site da revista Nova Escola, da editora Abril,
(http://novaescola.abril.com.br/)
possui algumas seções dedicadas ao planejamento.
Abaixo, dois endereços dessas seções:
http://novaescola.abril.com.br/ed/154_ago02/html/volta.htm
http://novaescola.abril.com.br/index.htm?ed/168_dez03/html/ensinar